20 de dez. de 2010

9. O ACOLHIMENTO - de José António Merino


     Todo o encontro sincero supõe acolhimento.
O Irmão universal não só acolhia o Tu infinito com incrível gozo e gratidão exultante, como acolhia todos os homens, mesmo os socialmente mais desprezíveis. Acolhe os socialmente enfermos, os ladrões, os salteadores, os leprosos, os pobres, os poderosos, os irrelevantes, os revestidos de poder. Acolhe a criação inteira não apenas com sentimentos de poeta, mas com entranhada amizade fraterna.
     Foi um enamorado de Deus, do homem e de toda a criação. O seu amor foi todo o seu peso. Se cada homem é movido pela própria paixão, a paixão de Francisco impelia-o para os seus grandes amores: Deus, o supremo Amor; o homem, o grande irmão; e todos os demais seres, companheiros amorosos de um mesmo destino. Amou tudo e todos, mas especialmente aqueles que não encontram aceitação, os que não têm espaço, ou o têm escasso, na sociedade. Francisco esteve precisamente onde quase ninguém quer estar: restaurando uma igrejinha arruinada, assistindo a leprosos, vivendo com os pobres, identificando-se com os últimos dos homens. Ninguém honradamente o poderá acusar de fomentar uma caridade cúmplice das misérias humanas; pelo contrário, ele próprio as assumiu e tentou transformar através de uma acção vivida e não apenas de uma denúncia fácil.
    O mundo franciscano dista enormemente do mundo kafkiano, onde cada qual só pode contar consigo próprio e vive permanentemente diante de portas e janelas de suspeição, ou em frente de escadas e corredores intermináveis, que obrigam a um caminhar incessante e a ter sempre diante dos olhos rostos desconhecidos e interpelantes, numa vida que se dilata sem garantia nem destino. O homem kafkiano, como o agrimensor K. de O Castelo, é um forasteiro permanente e um estrangeiro em meio de muitos olhares indagadores e insuportáveis, porque é alguém que se tornou supranumerário e é sempre uma presença incómoda, alguém por cuja causa se padecem contínuos embaraços. A sensibilidade e o acolhimento franciscanos, pelo contrário, podem transformar o universo do temor, da suspeita e da incomunicabilidade num universo de aproximação, de amabilidade e de camaradagem exultante.
  
     A Paróquia de Ovar expõe numa sala-museu rústica (por detrás do altar mor, entrada pela sacristia) uma inovadora exposição de presépios, de grande qualidade artística, elaborados por alunos e Pais da Catequese. Estes presépios podem ser admirados a partir do dia 19 de Dezembro na Igreja Matriz e, posteriormente, na Biblioteca Municipal de Ovar. Vale a pena uma visita.

    “O tempo de Advento convida os cristãos a permanecerem vigilantes e intervenientes na construção do Tempo Novo que Cristo iniciou.
    A construção de Presépios pelas crianças da Catequese, com a colaboração de Catequistas e Pais, é um incentivo para uma vivência mais conscienciosa do Natal Cristão”. (Jornal: João Semana)
                                                  Veja no Blogue: Paróquia de Ovar, adicionado a este.

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