20 de dez. de 2010

2. A VIDA COMO GRAÇA OU DESGRAÇA - de António José Merino

      Foi-nos concedida a graça de sermos homens, foi-nos outorgada a mercê de podermos forjar um mundo novo. Mas o que é graça pode transformar-se em desgraça; e o que é mercê generosa pode reduzir-se a tarefa absurda. O homem, como protagonista privilegiado da história, tem a capacidade de criar ou destruir, de fazer ou desfazer a vida que lhe coube em sorte. Este é, simultaneamente, o seu nobre e trágico destino.
     Uma sentença do filósofo G. Dilthey sustenta que a vida do homem é «uma misteriosa trama de acaso, destino e carácter». Mas há que interserir um outro fio nessa trama: a graça. Com efeito, a graça pode transformar o carácter, iluminar o destino e clarificar o acaso. Todo o homem que vem a este mundo é preparado para muitas coisas. Ensinam-lhe um ofício, uma profissão, umas quantas práticas convencionais; só não o ensinam a habitar no mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário