Possuído e animado por essa Presença, sentese em permanente relação dinâmica com Deus, com os irmãos, com os demais homens, com os seres irracionais e a própria vida. A categoria relação é fundamental na vida e no pensamento franciscanos. Para são Boaventura e Escoto, a relação é um constitutivo essencial da pessoa. Manifesta-se na abertura aos outros, na percepção do apelo ao encontro com os demais. A pessoa humana define-se como ser para outrem. São Boaventura usa uma bela metáfora para esclarecer esse aspecto relacional do homem. A pessoa, diz ele, «é um som» que possui uma tonalidade e ressonância próprias e que «soa por si mesma», ao mesmo tempo que percebe o tom dos demais. Esta relação é mais afectiva que mental, mais existencial que categorial, mais vivencial que conceitual.
O homem não só se comunica através da palavra, como através de todo o seu corpo, já que é um ser penetrado de som que ao mesmo tempo ressoa. Somos um som polarizado, orientado e referido ao tu, aos outros e ao Outro. Mas não só ressoamos, como também podemos perceber as sonâncias do tu, dos outros e de Deus. O homem é simultaneamente autosonância, ressonância e consonância. Com estas imagens bonaventurianas se exprime a inquebrável vinculação que existe entre todos os componentes da realidade total. Só a partir da força vinculante do amor se destruirá a força desagregadora do ódio e das suas consequências. Só esta relação vital e dinâmica pode vencer a insularidade, a incomunicabilidade, os egoísmos e os distanciamentos irritantes de tantos irmãos homens que, por falta de ternura e de aproximação, fizeram de suas vidas um inferno em círculo fechado e asfixiante.
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